segunda-feira, 18 de março de 2013

Sobrenaturais



Palavras, palavras
Me esqueçam de lembrar

Palavras, palavras
Que enxugam o meu caminhar

Palavras, palavras
Que me fazem nadar

Buscar um cais
Seguras, reais

Palavras, palavras
São sobrenaturais

Quando os fatos reais
Parecem irreais

Um comentário:

  1. Crispim Quirino - Romancista, poeta, ator e escritor
    O maior poema de Jaqueline Riquelme é "Sobrenaturais" e vou expor os motivos.
    De 6 estrofes e que em cada possuem dois versos, o poema de Riquelme vai além do que seriam as palavras. A autora explora o universo sobrenatural de toda a existência humana, sobretudo quando essas palavras precisam ser "reais" e mais que reais, já que "Quando os fatos reais / Parecem irreais" são as palavras que aparecem para "Buscar um cais / Seguras, reais". E esse "lugar" existe. Muitos cientistas, neurocientistas, físicos, físicos quânticos, químicos, psicanalistas e etc. dariam tudo para saber-se nesse porto: cais das palavras que origina a tudo, mesmo elas. E a poetisa, usando de seu recurso lírico, já que são as palavras que formam os grandes literatas e escritores, nos dá esse caminho, parafraseando-a, para enxugá-la e assim esquecer de que devem lembrá-la. Sua poesia não quer lembrar, pois o que passa não mais existe, são apenas lembranças, memórias, tentando se reconstruir, ela quer é o instante eterno, o lugar da lembrança, o que "forma" a poesia. "A" palavra. Daí ser Jaqueline Riquelme poetisa. Ademais, quando a autora diz que não quer lembrar, e isso está implícito no poema, que precisam de palavras para existir, isso não significa que deve esquecê-la e deixá-las enquanto simples palavras, pelo contrário, ela quer ir além, buscar o seu cais, mesmo que tudo isso seja sobrenatural aos olhos e experiências suas... Cada palavra que vai se construindo no poema da querida Riquelme vai dando surgimento a outras palavras que precisam ser ditas e conquistadas pelo leitor, já que o papel da autora é escrever, como um diálogo entre autor e leitor, suas palavras buscadas num cais real, mas que aos olhos alheios parecem irreais, sobrenaturais. Jaqueline Riquelme é poetisa das melhores de nossa geração. Sem falar da simplicidade que possui e da gentileza de ser brasileira, sua estrutura física (pessoa) lembra bem a de uma índia que não é Paraguassú, mas com seus traços próprios de uma verdadeira escritora contemporânea. Isso dito, de sua beleza nativa, é só uma forma de apresentar ao leitor outras palavras que estão por trás das de Jaqueline Riquelme e que necessitam ser nadadas, já que são "Palavras, palavras / Que me fazem nadar"...

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